Passado a limpo!

Mais um dia que começa e lá vou eu seguir os passos de quem não sobrevive sem uma boa rotina. Sou escravo dos meus hábitos, dos meus afazeres diários da minha disciplina. Chegam às férias e eu me sinto perdido sem chão, sem rumo.
Na verdade se descansa a cabeça da rotina, mas não nos livramos das contas. Malditas contas. Gostaria de seguir a idéia do meu filho que me disse que adoraria se todas as coisas fossem de graça no mundo.
Mas voltando ao assunto e voltando das férias, lá vou eu percorrer os meus hábitos mais comuns. Tudo pronto, gravata no lugar pego o controle da garagem e vamos para mais uma voltinha de Fuca até o trabalho. Engraçado mas o Fuca é o legítimo carro dos leoninos, olhando a foto do meu já da pra entender. Gosta de ser percebido.
É de pequeno que traçamos a personalidade ou bem dizendo vão nos traçando a personalidade. Mesmo que tudo tenha dado certo o destino de cada um só o tempo irá poder dizer. Não é coisa de programação de computador e nem mesmo de adivinhação.
Comecei cedo a trabalhar incentivado pela minha mãe. Serigrafia.
Foi como uma cachaça. Gostei tanto que fiquei 15 anos fazendo à mesma coisa.
Entrei na faculdade de publicidade porque sentia afinidade com a profissão e na serigrafia atendia diretamente muitas agências tanto que o meu próprio estágio foi no meu próprio trabalho. Barbada como estágio sofrido como trabalho. No tempo de faculdade tinha colegas que não sabiam traçar uma reta com a régua e algumas colegas que entravam na faculdade com a intenção de ser modelo. Os que não traçavam a reta com a régua se tornaram donos de agência as que queriam ser modelo não sei se conseguiram, mas nada que um bom casamento não tenha resolvido.
Veja bem estou falando dos meus colegas da época.
Continuei trabalhando com serigrafia anos a fio até me dar conta que o que ganhava me manteria levando a mesma qualidade de vida que tinha até então. Sociedade é bom só na hora da mudança pra carregar os móveis na verdade para a qualidade da amizade não é nada bom. Se você quer estragar uma amizade, torne-se sócio dela.
Cansei das noites inteiras imprimindo peças de campanhas grandiosas pra receber 30 dias depois ou somente quando a agência tivesse pagado todos os funcionários para aí se preocupar com os fornecedores. Sabe como é microempresa se não recebe em dia não paga em dia e com o tempo se vai. Parece que até hoje as coisas não mudaram. No ramo de eventos a coisa é bem parecida também. E olha que tem muita gente graúda aí achando que fornecedor é devedor de favor.
Pelo menos até dois minutos após termos feito o que pediram. Saí da área da produção gráfica. Saber traçar uma reta com a régua não me ajudou muito.
Estimulado pelas qualidades da família e em alguns elogios dos tempos de faculdade resolvi entrar para a área da locução. Afinal com essa minha carinha e tamanho pra modelo é que não seria. Alguns dias de acompanhamento com o velho Milton Jung de guerra fazendo correções na minha leitura aprendi a acentuar as palavras no lugar certo na hora de ler em voz alta. Como tem gente que não faz isso e pior no rádio e na televisão também.
Pronto pra encarar uma nova aventura fui a luta.
Não nasci pra pedir pinico. Fazer o que. Algumas brincadeiras no microfone da rádio gaúcha e tive a certeza que dali não sairia nada. E olha que a voz até quebra o galho. Talvez por ser filho do Milton locutor da Guaíba há 50 anos isso me servia mais como empecilho do que lucro. Tipo: o que esse guri quer aqui que não foi pra Guaíba?
Passado um tempo fui informado de um teste para Mestre-de-Cerimônia no Palácio Piratini. Feito o teste com mais algumas cabeças fui aprovado. Já viu essa. Mestre de Cerimônia do Governador de uma hora pra outra. A tarefa era mais complicada além de usar a voz teria de ser em público. Maior autoridade do Estado ali do seu lado me olhando e confiando no sucesso do evento. Em uma visita para sentir o clima da nova tarefa fui jogado dentro do gabinete com todos os Governadores pertencentes ao CODESUL no VIII Foro Permanente de Governadores da CRECENEA-LITORAL. A mesa era assim:
Governador do Estado do Rio Grande do Sul e Presidente do CODESUL, Governador do Estado de Mato Grosso do Sul e Vice – Presidente do CODESUL, Governador do Estado do Paraná e Vice-Presidente do CODESUL, Governador do Estado de Santa Catarina e Vice-Presidente do CODESUL, Governador da Província de Formosa e Presidente do CRECENEA – LITORAL, Governador da Província do Chaco, Governador da Província de Corrientes, Vice – Governador da Província de Entre Rios, Governador da Província de Missiones, Governador da Província de Santa Fé, Representante da Região de Toscana, Representando a Presidência da CRPM, Representante da Comissão do Arco Atlântico da CRPM, Representante da Comissão Inter-mediterrânea da CRPM e o Secretário Geral da CRPM.
Abriram à porta e com um texto chamado de Carta de Porto Alegre fui lendo página por página sem se quer imaginar o que viria na próxima frase. Putz e quantos números romanos, até hoje não gosto de ficar colocando o vezinho antes o xizinho depois e calculando os números rapidamente lendo sem parar.
Fui salvo pelo Governador de Santa Catarina que vendo a minha cara de desespero e escutando na verdade tudo que já tinham tratado em reuniões o dia todo disse: Acho que não precisamos ouvir tudo isso, quem sabe somente assinamos. Conclusão do Governador da época: Acho que assim ta bom companheiro!
Alívio total e feito o “Batismo de fogo”.
Dali pra frente tudo que viesse seria lucro. Pelo menos fiquei preparado para surpresas.
E assim me firmei nesse lugar que ainda estou, cada ano mais seguro no que faço. Trabalho há 12 anos com isso e a cada solenidade sentir o frio na barriga estando ao lado de um governador, hoje Governadora Yeda Rorato Crusius me faz entender que estou vivo e agarrado ao verdadeiro compromisso da responsabilidade deste trabalho pelo qual sou apaixonado. Parece simples e corriqueiro para quem sempre faz isso, mas a cada solenidade se escreve mais uma página da história deste estado e de forma presencial.
Ficar ali ao lado destas personalidades escolhidas pelo povo é realmente um privilégio.
Não é fácil para esses governantes carregar a responsabilidade de um estado e retirar das críticas do dia a dia a motivação de seguir em frente com a ideologia e o sonho de ver um estado sempre melhor.
Voltei de férias e aqui na minha mesa de trabalho parece que estou em uma ilha que não fico perdido, volto a sentir meus pés no chão mesmo que aquelas contas eu ainda não tenha conseguido pagar.
Paciência nunca consegui mesmo!
Bom passado estes anos, já tive algumas experiências vividas, engraçadas, emotivas, peculiares e até mesmo desastrosas. Trocar o nome de alguém é terrível, mas acontece.
Pior são sempre esses erros que gravam mais que os acertos e tem sempre um “mala” pra passar a vida inteira te sacaneando. Os elogios, esses são os que não esperamos (mentira esperamos sim), porém para um bom leonino é como passear com o Fuca:
Enche a gente de orgulho. Agora imagina elogiarem não só o meu trabalho, mas também o Fuca!