segunda-feira, 9 de novembro de 2009

É preciso brincar


Estranha a relação que fazemos com as idades e principalmente com a nossa idade. Já algum tempo venho "filosofando" sobre esta estranha relação do tempo que estamos vivendo com a relação do tempo que já vivemos. O tempo parece sempre distante. Longe das preocupações dos olhos ingênuos do mundo infantil. Crescemos com uma sede desesperadora de ocuparmos o lugar dos adultos ao tempo que não nos damos conta que o quanto mais chegamos perto deles mais eles se afastam de estar entre nós.
E às vezes cedo de mais como foi o caso da minha mãe. Faleceu com 40 e poucos anos e pra mim parecia que ela vivera uma eternidade, ar de senhora, responsável, amável, firme e decidida. Adorava dizer palavrões. Diga-se de passagem, que eu também. Bom feita a observação não muito religiosa e por alguns dita como o fim do mundo, volto para o assunto anterior.
Pois bem esperamos sempre que o amanhã seja o dia melhor, o ano melhor, aquele em que conseguiremos os bens o sucesso e o dinheiro que além das facilidades diárias irá pagar o plano de saúde bendito pro resto de nossas vidas. Aí é que mora o perigo. O destino de cada um de nós já esta traçado não é mesmo. Será que não ficamos esperando que sempre o nosso seja melhor e deixamos que o destino destine pra nós o que não queremos. Fato é que sempre lembramos do passado melhor, aquela brincadeira que não se tem mais hoje, a maturidade que demorava a vir e de nada adianta ela ser precipitada a bicicleta nova, o par de tênis o seriado na TV que tinha até Pai e Mãe sentados no sofá pra assistir juntos.
Bom agora já tenho os 40 e poucos anos e não me sinto nada a vontade de ter junto comigo a responsabilidade de carregar outros seres humanos que espero terem dias mais tranqüilos, sim aqueles que o destino já traçou, isso na verdade é a realidade devo ter sim a responsabilidade de saber dizer para eles como e de que forma a vida vai se renovando. Tenho os já 40 e poucos anos que minha mãe tinha quando se foi e que eu pensava como seria quando estivesse por lá. Alguém disse que a vida começa aos 40? Começa como? A vida recomeça a cada dia que levantamos, aliás, é o que se tem de mais fácil para recomeçar. Aqui estou perto do tempo físico e vendo que alguns ícones da minha vida terão de se ir porque assim a vida é. Mesmo que rezemos mais ou não. Tenho de ser forte, passar para os meus filhos que é preciso lembrar das brincadeiras do passado para que possamos olhar pra trás e enxergá-lo. É preciso ter um passado bom sim, alguma coisa se quer, uma lembrança boa porque na verdade quanto mais avançamos no tempo mais somos reduzimos, espremidos em um espaço de tempo que se encurta graças a nossas ambições.
Por isso que eu digo: é preciso brincar, brincar muito, aproveitar a infância o máximo que der para que possamos ter no maior tempo possível os que amamos perto de nós. Quando será que realmente estaremos preparados para convivermos com as perdas? Quer saber? Nunca.

2 comentários:

  1. lindo texto , reflete muito bem o que sentimos, quando criança não nos damos conta da sorte que temos em ter nossos pais e avós e as brincadeiras com os amigos , com certeza depois de adulto convivemos com as coisas amargas da vida as responsabilidades, as perdas, enfim vida de adulto não é fácil, ainda bem que a paixão por nossos carros antigos em especial os fuscas nos alegram e nos fazem esquecer mesmo que por um momento esses entes queridos e os tempos de outrora.

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