sábado, 26 de março de 2011

A Cidade II - Homenagem aos 239 de Porto Alegre

Dos primeiros passos onde o que eu conseguia enxergar fosse acima da minha própria cintura fui me afeiçoando ao espaço que a cidade me proporcionava.


Aos poucos vencendo a barreira do portão e tento a rua como o universo de aprendizado além é claro da sabedoria do banco da escola.

Estudava no centro, mas morava e ainda moro no bairro chamado Menino Deus.

Meus trajetos eram esses, centro e bairro e naquela idade atravessar a rua era tarefa de se fazer com alguém mais velho ou fora do olhar atento dos Pais. (escondiiiido)

Os muros, as cercas, o pé de pêra, as goiabeiras, as ameixas e as amoras eram desbravadas e devoradas nas tardes ou manhãs sem compromisso. Caminhar pelos muros da vizinhança  e sacar as frutas era uma barbada.

Final do dia o grito sadio da minha mãe avisando que era hora da janta ecoava pela Rua Saldanha Marinho. Tempos em que escutar o grito da mãe ainda era permitido em meio à poluição sonora que toma conta dos dias de hoje.

Com a proximidade ao estádio do Grêmio dias de jogo eram dias de movimentação forte na rua. Brincar de estacionar os carros naquele tempo era tarefa divertida e não destes que fumam maconha a achacam os proprietários antes do jogo começar. Tenha pena de saber que um dia o estádio não estará mais ali.

A cidade cresce, mas perder as referências arranca de vez parte de nossa história. Os gritos da torcida e até mesmo os acordes de Eric Clapton quando naquele estádio tocou eram ouvidos e ainda são do travesseiro da minha cama.

Isso também a cidade nos da. As referências sonoras me fazem ter a total percepção que vivo em solo seguro. Assim com aquela sensação de quando se chega de viagem.

E com tudo isso, com o barulho silencioso do Rio Guaíba vejo de dentro do carro um pouco da minha infância que talvez se conserve tanto pelo por do Sol que no fim da tarde se vai.
Vadiar no tempo em que se pode e voltar com os pés sujos de areia é necessário para que nos apoderemos da cidade.

Skate na pista nova do Marinha, carrinho de lomba, bola de gude e a carrocinha de amendoim carapinha na frente da antiga lojas Renner no centro. Final da linha do ônibus no antigo terminal ao lado do mercado público vendo as pessoas tomarem batida de abacate naqueles copos de vidro opacos e encardidos marcaram os passeios com minha mãe enquanto esperava ônibus chegar para voltar para casa.

Escutar meu pai no rádio enquanto almoçavamos às vezes acompanhados de um copo de vinho misturado com água era atitude certeira sentado a mesa.

E sigo na mesma viajem de dentro do fusca olhando o sol descendo lá pra trás de onde o Rio Guaíba parece terminar.

Reclamar do trânsito, esperar pelo metrô, liberar definitivamente o Cais Mauá para que a comunidade fique ainda mais perto do Rio. Caminhar pelas ruas que às vezes se alagam acompanhar a queda das folhas das paineiras quando o vento sopra forte na Avenida Getúlio Vargas. Rodar pela cidade.

E da pequena janela do fuca a cidade cresce muito mais do que a minha dimensão de vida ainda tenha pra me mostrar.

Ao tempo que nos sentimos espremidos com os dias que passam e da idade de subir na goiabeira até esta imagem que tenho hoje da janela do fuca se vão 43 anos, e para a também minha, “Porto Alegre” se vão 239 anos de vidas e histórias e ainda me assistindo crescer.

Para cidade seremos sempre crianças, estaremos sempre e sempre crescendo e ela como uma grande mãe de tudo isso por vezes castiga quem nela mora.
Porém como a maternidade que sempre nós ensina, a cidade logo nos acaricia como quem jamais imaginaria que um filho um dia possa ir embora.

Parabéns minha Porto Alegre.

3 comentários:

  1. Dizem que uma bela ou criativa foto fala mais que mil palavras. Teu belo texto,porém, completa a fotografia que expuseste acima dele. Ao mesmo tempo em que te dou parabéns pelo que escreveste sobre a nossa cidade,aproveito para cumprimentá-la pelo transcurso de seus 239 anos de existência.

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  2. Obrigado Pai pelo teu comentário se não fosse tu a me dar oxigênio com os comentários poderia julgar que ninguém lê o que escrevo as vezes.
    Abração!

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  3. QUERIDO AMIGO!
    TODOS NÓS TEMOS AS NOSSAS MÁQUINAS DO TEMPO!
    A SAUDADE NOS LEVA AO PASSADO; E NOSSOS SONHOS NOS REMETEM A UM FUTURO. PARABÉNS POR FAZER LEMBRAR DE UM PASSADO DISTANTE, MAS FELIZ.
    ABRAÇOS, MILTON FURTADO.

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