Escreve Milton Ferretti Jung este que esta sentado a mesa do lado esquerdo com os fones.
Outro dia, o Mílton, em sua "
Avalanche Tricolor", a propósito de uma outra estreia – a do Grêmio no Campeonato Gaúcho- lembrou, com saudade, o início de sua carreira na Rádio Guaíba, no qual, repórter esportivo que era, trabalhava nos jogos dessa competição, muitos deles narrados por mim. A saudade se explica: os jogos, em geral, especialmente aqueles disputados no interior do estado,transformavam-se em batalhas campais ou quase nisso. Os jogadores, mesmo os da dupla Gre-Nal, mais bem remunerados, tinham amor à camiseta, coisa rara hoje em dia, pois o profissionalismo transformou muitos em verdadeiros mercenários. O que o Mílton não recordou, porque não havia nascido na época, foi das dificuldades que se enfrentava para transmitir as partidas do que agora resolveram apelidar de Gauchão, superlativo injustificável para o futebol que se vê.
Em algumas cidades interioranas – Bagé era uma delas – não havia linha telefônica, necessária para que se falasse dos estádios. Viajava-se, na véspera dos jogos, por estradas de chão batido, muitas vezes debaixo de chuva. Não havia motorista profissional. Dirigiamos nós mesmos inseguras kombis. Dentro delas, estava um enorme transmissor “single-side-band”, o substituto da linha telefônica. Para que funcionasse era preciso comprar dois postes de bom tamanho, estender entre eles um cabo, conectado a outro que, por sua vez, ligava-se ao transmissor. Na sede da rádio, um técnico passava trabalho para receber a transmissão. Esse, controlava o áudio girando um botão. Para a equipe que estava no estádio ouvisse o retorno do som que era enviado, fazia-se necessário sintonizar a onda-curta da emissora.
Em transmissões de futebol fora do estado precisava-se contratar a Radional, antecessora da Embratel e nem sempre confiável. Essa, certa vez – e com isso vou encerrar este papo, não se preocupem – nos deixou na mão num jogo entre Atlético Mineiro e Grêmio, em Belo Horizonte, no Estádio Independência. Sem conseguir captar a onda-curta da Guaíba, abri a transmissão depois de avisar para o estúdio que iriamos – o Ruy Ostermann e eu – entrar no ar em “voo-cego”. E entramos. Narrei 85 minutos. Foi então que a onda-curta deu o ar da graça. No estúdio, o locutor do noticiário apresentava o Jornal da Noite.
Seja lá como for (ou como era) que, tal qual o Mílton bem mais tarde, nós dois tenhamos bons motivos para sentir saudade dos velhos tempos do futebol e do rádio esportivo.
Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista, gremista e meu pai. Escreve todas as quintas-feiras no blog do
Milton Jung e terá sua reprodução qui neste blog.