sexta-feira, 18 de março de 2011

Até com o Citroën do meu pai!

Por Milton Ferretti Jung
Estamos longe, em Porto Alegre, de assemelharmo-nos a São Paulo em matéria de trânsito. Mesmo assim, acredito que um de nossos conterrâneos poderia entrar no Guiness Book na condição de maior atropelador de ciclistas do mundo. No momento, ele está sendo castigado. Foi recolhido a um presídio, depois de passar algum tempo hospitalizado, com a desculpa de ter problemas mentais. Na semana passada, outro sujeito atropelou dois ciclistas. Esse nem sequer possuía carteira de habilitação. Foi identificado ,mas está (ou estava) foragido.


Não se imagina, porém, que todos os motoristas alimentem animosidade em relação a quem pedala por essas ruas da capital gaúcha, sem as sempre reclamadas ciclovias, embora muito prometidas. Seja lá como for, uma coisa é certa: bikes (apelido das bicicleta que é um modismo dos tantos que já andei criticando), não criam congestionamentos, pelo menos, nas cidades de nosso país.

Quando abordo assuntos que envolvem trânsito, sinto muita saudade dos tempos em que na minha cidade, nos domingos, bem cedo, especialmente (e até nos outros dias da semana), dirigia-se por e para qualquer bairro sem encontrar carros em profusão, situação bem diferente da experimentada hoje.

Lembro-me de que meu pai era proprietário de um Citroën 1947 ,importado da França. Esses automóveis (há pouquíssimos, agora, em mãos de colecionadores de carros antigos) tinham uma peculiaridade em relação à pintura com a qual desembarcavam por aqui (ao menos em Porto Alegre): vinham com apenas duas demãos de tinta, a básica e a outra de um preto fosco, e o revendedor possuía a que seria usada gratuitamentre, no acabamento. Isso nunca aconteceu. Afinal, na época, não se falava em “recall”.

Meu pai me emprestava o carrinho para que, nas manhãs dominicais, fosse com ele à igreja. Seria só para isso. Não era o que eu fazia. Saía a passear pela cidade e retornava no fim da missa. Apenas mentiras de políticos conseguem possuir pernas grandes. As nossas, simples mortais que somos, todos afirmam que são curtas. No meu caso, tratou-se de pura verdade.

Em um certo domingo, para emprestar veracidade à minha mentira, no fim da missa, passei pela igreja e dei carona para uma vizinha. Não pensem mal de mim, não. A vizinha era casada, mãe de meus amigos. Minha paróquia ficava – e ainda fica – no alto de uma colina. Foi na festas que o pároco realizava visando a angariar dinheiro para completar o templo, que comecei a bancar o locutor. Depois deste parênteses, volto ao episódio dominical. Costumava descer a lomba da então igrejinha, em ponto-morto. Mas havia um cruzamento. Não percebi que um táxi (era um Mercury imenso), por ser grandão, nem ligou se estava ou não na via preferencial e bateu no pára-lama traseiro do Citroën. Não deu nem para discutir quem tinha razão. Até poderia ser eu ,mas ainda não possuía carta de habilitação.

Ao parar com o carro na entrada da garagem lá de casa, meu pai, preocupado com minha demora, esperava-me na porta. Contei-lhe o acontecido… e passei um monte de tempo sem licença paterna para dirigir. Sem dúvida, não é necessário enfrentar o tráfego intenso dos nossos dias para a gente se meter num acidente de trânsito.


Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Às quintas-feiras, escreve no Blog do Mílton Jung (meu irmão)

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