sábado, 5 de dezembro de 2009

Autonomia de Vôo!


Hoje fui surpreendido com um aviãozinho de papel cruzando em céu de brigadeiro pela minha sala de estar, bem dizer dando uma rasante na mesa da cozinha. Depois claro lá estava o piloto, todo bobo me mostrando que tinha aprendido a fazer um avião de papel. Era o “Ajudante Nota Dez”, isso mesmo Fernando meu filho. Já não precisou mais da ajuda do Pai para dobrar a folha de papel e transformar material reciclável em um meio de transporte, ta certo de brinquedo, porém com poder e deslocamento. (Hoje li uma boa dele na prova do colégio. Perguntado sobre qual seria um meio de transporte que carrega carga ele respondeu: O Correio! O que é o marketing empresarial).
Apreciada a engenhoca de bom acabamento vi um bom número de vôos para chegar à conclusão que Fernando já adquiriu autonomia de vôo. A liberdade de não precisar mais da ajuda do velho, mas nem tão velho Pai. E assim como dobrar uma folha de papel a vida vai tomando liberdade e cumprindo o ritual de se ver independente. Primeiro os gestos, depois as sons, o controle dos membros a independência das fraldas permitindo que o coco e o xixi passem a ser administrados da forma que o ser humano quiser guardar pra mais tarde e ficar soltando puns, fazer pontaria com o pinto pra urinar onde quiser, enfim esse tipo de coisas tão simples e complexas ao mesmo tempo em que quando envelhecemos temos pavor de perder. E pior perdemos mesmo.
Mas o fato em questão esta no crescimento, depois destes controles vem à conjunção das palavras e claro as perguntas, e como têm perguntas, algumas até nem tenho a resposta e se quer parei pra pensar um dia. Depois a autonomia das frases escritas palavras que eram difíceis de escrever vão fluindo com alguns erros, por incrível que pareça não muito diferente dos meus neste texto.
É a autonomia de vôo com toda a certeza. Tenho a partir daquela passagem do aviãozinho de papel a noção complexa de que o meu “Ajudante Nota Dez” cada vez precisa menos de mim e eu muito mais dele (que ele não saiba). É a vida que não se cansa de se repetir. Fez me lembrar os tempos em que acompanhava meu Pai na leitura de seu Correspondente Renner na Rádio Guaíba sábados à noite e naqueles 10 minutos de noticiários que ele lia (e ainda lê tão bem que em 50 anos não apareceu um que fosse melhor, aliás, só pioram) eu ia pra sacada do prédio na Caldas Júnior arremessar minhas engenhocas voadoras na cabeça dos que formavam fila para entrarem no cinema Cacique. Era um vôo lindo, duas ou três voltas e a esperança de que acertasse alguém bem na cabeça de preferência. Espírito de porco quando se é criança sempre tem outra conotação não é mesmo. É sempre mais engraçado até porque era só uma folha de papel com um piloto Kamikaze ilusório que ao cair no chão já era. Corria novamente e pegava mais uma lauda (porque a sala ficava na redação da rádio) pra virar um super jato imaginário. Viram só a vida se repete mesmo, menos mal que o “Ajudante Nota Dez” ainda não descobriu a maravilha de se jogar um aviãozinho bem na calva de alguém porque com certeza a minha seria a primeira.
E com isso vou assistindo as aquisições e a liberdade que aquele serzinho pequenino que dependia tanto de mim, querendo mais saber das minhas experiências passadas do que as que lhe vão servir para conduzir o futuro, porque na verdade para saber do futuro se pergunta aos jovens porque eles sabem o que irá acontecer de verdade, os velhos sabem o que fazer, mas não como vai ser. Pra se saber exatamente o que não vai acontecer no futuro, escute uma projeção estatística dos mais velhos. É sempre o contrário! Bom, me estendi muito hoje, mas senti a necessidade de reproduzir o meu sentimento que se encontra, se perde e se expande com a mesma autonomia de vôo do “Ajudante Nota Dez”!

3 comentários:

  1. Puxa, Passarinho! Ainda bem que já não mais existe o cinema Cacique e nem tu és o locutor do correspondente da Guaíba. Se assim fosse, e como, via de regra, os filhos sempre superam os pais, certamente teu "ajudante" acertaria várias cabeças com seus aeromodelos de papel.
    Parabéns ao piloto que adquire aos poucos autonomia de vôo e àquele que o ensinou a voar!

    ResponderExcluir
  2. Fala meu baterista, obrigado pelo comentário. Tenho uma post engatilhado pra falar sobre as peças da bateria que eu namorava na garagem da 16.
    Já tenho até a foto pra ilustrar. Adivinha quem vai aparecer?
    Abração

    ResponderExcluir
  3. Não há nada que me proiba de postar textos neste site e,por isso,aí vai um deles.
    - Depois do aviãozinho de papel,ainda berm simples,precisamos ensinar o "Ajudante Nota Dez" a construir um modelo ligeiramente mais sofisticado,embora também do mesmo material. Se não lembras,Christian,como se faz o dito cujo,fala com o avô do Fernando,antigo especialista na confecção dessas "máquinas voadoras".

    ResponderExcluir