Por Claudia Tajes
Um dos grandes baratos do rádio é inventar rostos para as vozes que a gente escuta. No meu caso, basta ligar o rádio para a figura do locutor surgir na minha cabeça, mesmo que eu não saiba como ele é. É impossível ouvir uma voz sem imaginar a cara que ela tem. A curiosidade é que nenhum dos locutores que conheci era parecido com a imagem que eu fiz.
A surpresa é outra das mágicas do rádio.
Adoro rádio desde criança, tanto porque meu pai passou o gosto aos filhos, quanto pela convivência com o tio Milton Jung, o lendário Correspondente Renner.
Engraçado é que um dos programas preferidos de sábado, ir com irmãos e primos à rádio para ver o tio narrar, trouxe também uma decepção da infância: descobrir que não era o Milton quem tocava a cornetinha característica do início do noticiário.
Nessa época fui apresentada, nos aniversários de família, às vozes do professor Ostermann e do Lauro Quadros, e como era bom ver que eles pareciam o nosso rádio de casa quando falavam as coisas mais simples, um sim para a torta fria, um não para a salada de batata.
Outra voz: a da Katia Suman. Muito antes de se transformar em um cabelão familiar para os telespectadores, a Katia pedia um paracetamol na farmácia e o atendente se derretia: Katia Suman! Incrível como ninguém esquece uma boa voz.
A da Sara Bodowsky, por exemplo, eu não esqueço de ouvir, nas vezes em que a madrugada me pega de pé. E quem não lembra da voz que precedeu a da Sara, a do Jayme Copstein, então a companheira dos noctívagos e insones?
Nos últimos tempos, por conta dos convites para participar de um ou outro programa, tenho visto muitas vozes de perto. As dos meus queridos amigos do Cafezinho, vejo praticamente todas as semanas. Da turma Gre-Nal comandada pelo Serginho Couto, também. Depois que a gente vê vozes, ouvi-las no rádio ganha outro prazer.
Volta e meia alguém diz que o jornal vai terminar, que o livro vai morrer, que o CD já era. Sobre o rádio, ninguém arrisca uma previsão desse tipo. A impressão é que ele se espraia cada vez mais, invadindo o celular, a internet e o que mais chegar. Para que as vozes do locutor que nos acompanha e do cantor que tanto amamos não nos abandonem jamais.
Sem voz, só som instrumental da pesada: o novo CD do Arthur de Faria & Seu Conjunto, Música para Ouvir Sentado. Faltam palavras para dizer como é bom.
Claudia Tajes trabalha em criação publicitária, escreve para jornais e escreveu alguns roteiros para televisão, além de seis livros já publicados:
Dez (Quase) Amores (L&PM, 2002)
Dores, Amores e Assemelhados (L&PM, 2002)
Vida Dura (L&PM)
As Pernas de Úrsula (2001)
A Vida Sexual da Mulher Feia (2005)
Louca por Homem (2007)
De mais a mais é minha prima o que me faz remeter, ao ler esse texto, o meu passado!
sexta-feira, 1 de julho de 2011
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