quinta-feira, 7 de julho de 2011

Saudades da Pracinha

Por Milton Ferretti Jung



Quem, porventura, leu algum ou alguns dos textos por mim postados neste blog talvez imagine que sou saudosista. Houaiss, porém, informa, no seu dicionário, que essa palavra descreve quem cultiva o saudosismo. Este, por sua vez, significa “tendência, gosto fundado na valorização demasiada do passado”. Eu valorizo, sem demasias, tanto o passado quanto o presente.
Já o futuro, embora me preocupe, deixo para lá, porque a Deus pertence, diz o ditado popular.

Seja lá como for, sinto saudade de meus falecidos avós, pais, de minha irmã e de muitos amigos que se foram e de outros que ainda aí estão, mas com os quais perdi contato. Tenho saudade também de coisas: meus times de botões. Guardo-os até hoje, mas nem meus netos se dispõem a jogar comigo. Todos preferem os sofisticados jogos de computador. E lhes dou razão. Afinal, também pratico alguns desses, os menos complicados, claro. Por falar nessas maravilhosas máquinas modernas, apresento mais uma prova de como dou importância ao presente. Gosto de novidades: GPS, IPod, IPad, carros modernos, repletos de air-bags, com câmbio automático e avanços incontáveis em todos os sentidos.

Não esqueço, entretanto, das coisas passadas que fizeram o encanto da minha infância: os terrenos baldios, por exemplo, quase todos, na minha zona, usados para que jogássemos peladas. Esses foram aos poucos se rarefazendo à medida que eram ocupados por residências. Sobrou a “pracinha” – como a chamávamos carinhosamente – um triângulo formado pela junção de duas ruas, situada bem na frente da casa paterna.


Nela, praticamos vários esportes, embora o terreno tivesse um declive e quem jogasse na parte mais alta – a ponta aguda do triângulo – sempre ficasse em desvantagem. Havia, na “pracinha”, todo o tipo de jogo, desde bolinha de gude, vôlei e basquete, até um gol a gol disputado com bola de tênis, impulsionada a cabeçadas e, claro, as peladas, nossas preferidas. Às vezes, entretanto, nos transformávamos em espectadores.

Um pouco distante da minha rua havia um campo de futebol amador no qual jogava o União. Para nós, meninos e adultos, era o União do Buraco, porque o gramado ficava ao lado de um morro. Neste, se aboletava a maioria dos espectadores. Da janela do quarto dos meus avós, ouvia-se o barulho da bola chutada pelos “craques” que, não raramente, se desentendiam e partiam para a pauleira. Era um salve-se quem puder. Lembro que muitos dos que fugiam passavam correndo por minha rua. O futebol, no campo do União, fazia a alegria das tardes de domingo, tanto da criançada quanto dos adultos. Bem mais longe, situava-se o campo do Pombal. Este era outro dos times amadores que não deixavam de ter seus torcedores. A vantagem dessas equipes é que não precisavam ceder seus jogadores para seleções de todas as espécies ou para o futebol europeu, árabe, japonês, russo, ucraniano, etc. Não sei se algum dos nossos “craques” chegou a se profissionalizar. Isso, todavia, nunca impediu que a gente torcesse para eles.


Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Às quintas, escreve no Blog do Mílton Jung (meu irmão).

Nenhum comentário:

Postar um comentário