sexta-feira, 3 de junho de 2011

Prefiro meus professores de português

Por Milton Ferretti Jung

Desculpem-me os leitores dessas mal traçadas linhas, mas vou voltar ao tema da última quinta-feira: o livro distribuído pelo Ministério de Educação e Cultura que provocou polêmica de âmbito nacional. Seus defensores usaram sofismas para defender a sua publicação. A opinião de Ernani Pimentel, que escreveu Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, por exemplo, diz que “muitos educadores acham que falar certo é falar rebuscado”.

Tive vários – e ótimos – professores de português. Considero-me um sujeito de sorte. Os meus mestres jamais me passaram tal idéia, pois nunca exigiram que eu, nas redações que prescreviam, usasse rebuscamentos lingüísticos. Um deles, meu saudoso Professor Marques, no Colégio Anchieta, nos mandou fazer uma “carta aos pais”. Ele costumava escalar um aluno para ler a redação diante dos colegas. Tocou para mim a leitura da “carta aos pais”. Eu havia visto no dicionário uma palavra que muito me agradara. E resolvi usá-la bem no início do texto: “Meus pais, escrevo-lhes esta ignóbil cartinha…” Até hoje fico corado quando lembro a gafe. O meu caro Professor não nos ensinava a rebuscar a linguagem utilizada em nossas redações. Repito: nenhum dos meus mestres de português (seria por coincidência apenas? )queria que rebuscássemos a linguagem. O que espero dos professores da língua chamada por Olavo Bilac de “Ultima flor do Lácio, inculta e bela…”,é que não caiam em sofismas e tratem de dar o melhor de si para ensiná-la aos seus alunos.

Na defesa do português não se pode, entretanto, cometer exageros como o praticado pelo Deputado gaúcho Raul Carrion, autor de projeto visando a barrar o uso de palavras ou expressões estrangeiras, felizmente vetado parcialmente por Tarso Genro, Governador do Rio Grande do Sul. Prestem atenção, por favor, ao texto do Artigo 1º (que, pelo menos, deveria ter sido escrito em bom português, e não foi): “Institui a obrigatoriedade da tradução de expressões ou palavras estrangeiras para a língua portuguesa, em todo o documento, material informativo, propaganda, publicidade ou meio de comunicação por meio da palavra escrita sempre que houver em nosso idioma palavra ou expressão equivalente”.

Vá lá que as emissoras de televisão, por exemplo, não precisariam usar para denominar seus informativos a palavra “news”, porque pareça, talvez, mais charmosa dos que “novas”. É aceitável, por outro lado, que em documentos oficiais (parte vetada pelo Governador) não sejam utilizadas as tais palavras ou expressões estrangeiras que tanto horror causam (ou causaram) ao autor do projeto. Aliás, este está satisfeito com o veto parcial porque “o governador do Estado deu importância ao tema e avaliou que ele merece uma legislação. Foi uma vitória – eu diria que, de Pirro – que enriqueceu o debate na nossa população”.

De minha parte, queria ver como seria regulamentada a lei da proibição de palavras e expressões estrangeiras. Transformaria o Rio Grande amado, sem dúvida, em alvo de chacotas dos outros estados. Existe uma verdade imutável: a virtude está no meio. Nenhum projeto pode mudá-la.


Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Às quintas, escreve no Blog do meu irmão Mílton Jung.

Um comentário:

  1. Maravilha, parabéns. Realmente é um assunto bastante polêmico e que merece ter a devida atenção.

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