segunda-feira, 27 de junho de 2011

Maior Idade Deficiênte

Dia 14 passado Vitória completou 17 anos.

Pela primeira vez depois desde tempo todo ter passado o fato dela estar fazendo aniversário mexeu com os meus sentimentos.
Vitória para os que não sabem teve complicações ao nascer que lhe resultou em uma Hemiplegia no lado esquerdo e déficit cognitivo.
Do dia que nasceu até todos os outros que se transcorreram passei por uma espécie de aprendizado tanto quanto a lidar com o resultado de uma infecção que gerou toda essa conseqüência, quanto a minha ignorância ao cuidar de uma criança que por ser criança já nos deixa um leque enorme de dúvidas quanto ao crescimento e educação, mas muito mais que isso por estar lidando com o diferente.
Enfrentar os dias que viriam contando com meia dúzia de profissionais que realmente confiavam e confiam no potencial da estimulação precoce foi fundamental para que vivêssemos dia a dia acreditando na mudança.
E Vitória não deixou por menos dentro de suas condições enfrentou por vezes descaso de profissionais que não conseguem ver além do resultado de um exame.
Transformadores de seres humanos em uma simples composição química com resultados matemáticos. Mas ela sempre foi além.
Lidar com o desconhecido é lógico que sempre será motivo de angústia para qualquer ser humano, porém lidar com o desconhecido e ao mesmo tempo especial faz com os anos se passem a procura de algo que nunca se sabe o que realmente é e sim somente o que se quer.
Fato que lidar todos estes anos com o diferente pode nós deixar mais maduros em relação a outras relações com a vida. Lidar com uma criança com uma deficiência também nos faz acharmos super protetores e especialistas no olhar dos outros. A pena, o porque do problema, a pergunta de o que é que ela tem, enfim coisas deste tipo que é normal mas ao mesmo tempo tão desgastante quando não estamos de bem com a vida.
O cansativo dever de estar sempre a frente da ignorância dos outros.
Mas fomos levando.
O que me trouxe hoje a esta reflexão dos 17 anos onde me referi a "Maior idade deficiente" é porque tão somente agora onde ela quase faz a maior idade voltamos a estaca zero do: o que será que vira pela frente?
Sim, agora Vitória aos olhos do mundo e da justiça e claro da natureza humana, não será mais aquela criança indefesa que teve o azar de ter tido um problema que a deixou limitada para enfrentar a relação com a vida com as suas próprias capacidades.
Pode parecer complicado explicar, mas a maior idade agora lhe joga na sociedade com o ar da diferença, ou melhor dizendo, da deficiência na forma bruta como é tratada.
Tão ignorante quanto o que não estuda é a relação da maioria da sociedade em relação a deficiência. E digo isso não por me achar o tal porque nela me enquadro também. Basta nos depararmos com alguém em uma cadeira de rodas ou até mesmo uma pessoa cega e não sabemos direito qual atitude tomar. Se lidarmos com a deficiência psicológica pior ainda, não sabemos se devemos ser enérgicos e limitar ou deixar acontecer e não sermos grosseiros, ou melhor, ignorantes.
É um mundo a ser descoberto por quem nele não vive.
Então chegar aos 17 anos é me remeter aos primeiros dias de vida em convívio com a Vitória. É começar a tentar entender como será a partir de agora que ela é um adulto como sou. É lidar com alguém que já tem o mesmo tamanho que eu tenho e que já não responde a estímulos de uma criança indefesa. É estar naquela linha do tempo onde eu estou envelhecendo e chegará o tempo onde se tudo fosse dentro da normalidade, ela viria a cuidar dos Pais.
E agora?
Com certeza os olhares da sociedade a partir de agora serão os olhares do diferente. Do desconhecido e muitas vezes do descaso.
Mais uma vez teremos de nos superar enfrentar as dúvidas e diferenças que a vida “especial” nós apresenta.
Mexeu comigo sim e me desestabilizou e mais uma vez irei revirar a minha caixa de opções emocionais para encontrar que fórmula terei de utilizar para não tornar a vida da Vitória mais difícil do que ela já é.
Mesmo que dentro do seu limite de entendimento muita coisa não perceba, por tantos outros motivos sensíveis e emocionais ela sabe como é complicado.
Entende que é diferente, sabe das limitações.
Desta cartilha de alfabetização do especial que aprendi ficam muitas lições.
Destes 18 anos que virão pra frente será como um novo ciclo de vida.
Da Vitória a felicidade de estar viva e de estar com os seus 17 anos íntegros e bem assistidos.
É minha filha começaremos tudo de novo.
Mesmo que tu não tenhas a capacidade de ler estas linhas que teu Pai escreve sei que sabes ler muito bem o meu pensamento.
Sim começaremos tudo de novo. Tudo novo de novo.
Que venha a maior idade.

3 comentários:

  1. caro amigo me emocionei com as tuas palavras, cara tens uma filha linda problemas todos nos temos e a cada dia temos que domar um leaõ mas nao devemos esmorecer bola para frente amigo tens uma familia maravilhosa,

    maggiclick

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  2. Meu grande Amigo, não temos como prever como será o dia de amanhã, muito menos o que acontecerá nos próximos 18 anos. Agora uma coisa é certa, ao longo destes últimos 17 anos, tu conquistou muitas pessoas que hoje podes chamar de Amigos. São estas pessoas que seguirão ao lado dessa Família linda que vocês formam, sempre ajudando da melhor forma, com uma palavra amiga, um abraço e um beijo, que não poderia ficar de fora. Peço-te apenas uma coisa, não me tire desta lista, pq já faço parte dela a 13 anos pelo menos, o que me confere o direito de acompanhar não só os próximos 18 mas no mínimo os próximos 30 anos. Grande abraço e vamos em frente!

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  3. Meu filho,sei bem quantas dificuldades vocês tiveram de enfrentar nesses 17 anos. Não foi,porém,simplesmente por acaso que,antes de conhecer o que viria,resolveram chamar minha neta de Vitória. Ela faz jus ao nome. Suas vitórias,por pequenas que pareçam,são diárias e muito grandes.De Vitória tem vindo e virá a força da qual vocês precisaram e vão necessitar para lidar com este recomeço. Somente pais muito especiais são capazes de criar filhos diferentes.Dá-lhe,Vivi!!!

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