segunda-feira, 17 de setembro de 2012
Paixão Gremista
Abraço ao Olimpico from Fuca79 on Vimeo.
Sábado pela manhã segui rumo ao Estádio Olímpico para ver como seria o Abraço da Torcida.
Poderia ter sido uma manhã normal se não fosse o fato de que em alguns dias o tão grandioso Estádio em que eu me crie como vizinho e não só como isso, mas também como freqüentador e torcedor é lógico, ser desativo e vir ao chão.
Nunca fui um enlouquecido por ir a campo e olha que tinha passe livre para entrar até mesmo no campo graças ao prestígio do meu pai que na época era locutor esportivo e apaixonado pelo tricolor e durante todas as tardes para lá se deslocava a fim de bater um papo e saber um pouco mais sobre as novidades futebolísticas. Era só dizer sou filho do Milton e pronto as portas do estádio se abriam.
Ainda assim aquilo pra mim não era uma coisa fora do normal, já o meu irmão sim que além de torcer como louco como até hoje, ainda jogava futebol nas categorias iniciais.
Como esportista joguei basquete por cinco anos no Grêmio e claro depois que todos os meus colegas de time cresceram eu vi que o que me restaria seria ficar somente como torcedor porque quem me conhece sabe, altura não é o meu forte e nos cinco anos eu devo ter crescido somente uns poucos centímetros.
E como guri de rua do tempo que cuidar carro era brincadeira para conseguir comprar bolas de gude cresci escutando os gritos da torcida de dentro de casa mesmo. Conforme o sentido do vento mais forte. Movimento na rua, gritaria, foguetes de fazer com que os cachorros sumissem ao menos até o próximo gol. Ruas trancadas, carros sobre as calçadas, pessoas querendo socar os seus carros em qualquer buraco para correr para o estádio.
Quando meu pai ainda morava na casa onde moro a 46 anos ainda tinha o fato dos torcedores que sabiam que ele morava aqui e sempre gritavam na rua: Milton Jung o homem do Gol Gol Gol. Sim esse era o grito que ele por estas coisas da vida instituiu como grito de gol da carreira de locutor esportivo.
Logo virou Milton Jung o homem do Gol Gol Gol. Claro que a torcida adversária também sabia de valoroso gremista que morava nesta casa e como já falei em outros textos tinha um vizinho não muito certo da cabeça e ainda com ela cheia de cachaça que sempre se encarregava de gritar: Milton Jung Gremista filho da p.......... Da pra imaginar o que viria! Era folclórico!
E dias de jogos sempre tornavam o Menino Deus, bairro onde moro e onde fica o Estádio em dias de festa.
Na verdade ainda tornam, porém com um gosto de final de festa. É certo que para quem passa pela Arena se surpreende com a grandiosidade e a qualidade que o novo Estádio irá oferecer a torcida e aos seus jogadores. Mas os espaços arquitetônicos não guardam apenas material físico, eles se criam assim e se transformam e grandes concentrações espirituais. Guardam dentro de si históricos que fazem com que as pessoas pensem em até mesmo que pedaço de pedra levarão pra casa.
Gerações que ali se criaram, festejaram, sofreram.
Inúmeras histórias que ao se desfazer da matéria se perderão um pouco mais nas páginas do tempo. O barulho que não se terá mais, a torcida que passará muito distante, os engarrafamentos tradicionais sinalizadores de uma batalha de noventa minutos. Um espaço vazio que se abrirá no bairro e deixará uma marca de uma alegria e uma bandeira que ali constantemente abanava para todos os moradores até mesmo os da torcida contrária.
A própria demolição do estádio dos Eucaliptos me doeu o dia em que por ali passei e vi um destes guindastes que com uma bola de ferro na ponta derruba a alma histórica de uma torcida.
Não sei até que ponto a cidade cresce com isso no momento em que derruba uma parte dela e se exclui a história em troca de núcleos habitacionais. Em fim não se tem como deter o crescimento em detrimento dos sentimentos tão somente.
E com esse vazio que por enquanto fica somente dentro do peito fui eu mais minha filha Vitória e o Fernando para ver o então Abraço ao Olímpico. E no movimento das famílias se deslocando para o Estádio fomos tomados pela energia que desenvolve uma multidão com a mesma paixão e sentimentos.
Fiz questão de levá-los porque com certeza eles não tem estes mesmo 46 anos que tenho acompanhando o movimento no bairro que o estádio proporciona, porém sei que eles pra vida inteira lembrarão do dia em que fomos lá e que naquele espaço que provavelmente será tomado por empreendimentos imobiliários existia algo de um formato gigantesco e que as pessoas se dirigiam para sorrir e para chorar.
E com o envolvimento e o movimento dos torcedores ao cantar o Hino Riograndense, ao cantar as músicas que impulsionam os jogadores fiquei com o coração mais apertado do costumeiramente anda.
E nestas poucas ocasiões em que me determino a viver mais de perto a paixão pelo time me dou conta que não posso mesmo ir muito além do vou.
Com certeza sofreria tanto ou mais que esses loucos torcedores que fazem qualquer coisa pelo time. Sofrer e se alegrar faz parte desta brincadeira que se cria a cada criança que nasce e se recria e com o espaço que se abrirá no bairro um grande vazio no peito teremos nós torcedores e moradores que preencher com as histórias e memórias que aquele monumento arquitetônico concentrou com o passar de todos estes anos. Que venha a Arena!
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É Meu Velho, esse é o sentimento de um verdadeiro Grêmista, mesmo sendo ele um expectador não muito aciduo e fervoroso, mas quando a alma grêmista se mostra, o corpo humano se enaltece com tamanha luz que até mesmo os mais parados corações gremistas pulsão como nunca, tornando essa paixão uma coisa eulouquecedora que da medo, mas que ao mesmo tempo emociona muito. Que venha a Arena e novas emoções virão, com certeza tão forte quanto estas que sentiste nestes 46 anos. Abç. Meu Velho.
ResponderExcluirValeu,Christian. Gostei de saber,pelo Mílton,que foste ao abraço com Vivi e Fernando. É uma pena que a demolição do Olímpico nos deixará bem longe da Arena. Tuas recordações e as minhas,porém,estarão sempre presentes na nossa memória por "omnia secula seculorum". Afinal,como gremistas,somos Imortais.
ResponderExcluirRapaz... Mesmo sendo Colorada, nunca deixo de admirar e respeitar um grande caso de amor. Com teu relato, mergulhei num passado que vivi quando éramos pequenos. Como era bom ficar com a tia Ruth enquanto o jogo rolava ali no lado. E era engraçado, ver os torcedores (muitos que nos faziam dar boas risadas, lembra?)com suas bandeiras, radinhos, cervejas e uma algazarra louca. Gostei da lembrança e muito mais de ti, primo Christian. Beijos 💖
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