quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Os carros de meu pai e algumas transgressões


Texto de Milton Ferretti Jung meu Pai, publicado no blog do meu irmão Milton Jung.

Meu pai teve automóveis mesmo antes de eu me conhecer por gente.
O primeiro dos quatro carros que ele adquiriu foi um DKW.Que eu saiba, arriscou-se a dirigir sem haver chegado a tirar carteira de motorista. Na época em que ele estreou na direção, o número de automóveis era bem menor e,segundo imaginei,somente se papai não tivesse sorte ao cometer a transgressão de trânsito, seria parado por um policial.
Não tenho ideia,porque estava com menos de cinco anos quando tomei conhecimento desse episódio, do que moveu o meu velho a “desafiar” a lei.
O seu Romualdo Alcides,nome que lhe deram os seus pais e que era por ele odiado,tanto que logo passou a ser reconhecido por seu Aldo, faço questão de dizer, era um homem que não cometia irregularidades. Apenas cheguei a conhecer o DKW porque o meu pai possuía uma Agfa,excelente máquina fotográfica alemã,que guardaria para a posteridade ótimas fotos da minha família.
Muito mexi nela,mas nunca me atrevi a usá-la. Era guardada a sete chaves,num armário cheio de livros,alguns deles rigorosamente proibidos para alguém que era visto como criança. A máquina fotográfica durou,na família Jung,bem mais do que o DKW.
Esse perdeu a vez quando foi vencido por uma lomba de barro vermelho,que eram muitas naquele tempo,em Porto Alegre, Hoje,nem consigo adivinhar onde se situavam.
Quem conheceu a capital do Rio Grande do Sul na mesma época em que nasci – 1935 – talvez consiga se lembrar das lombas que se transformaram em bairros.

Minha irmã nasceu quatro anos depois de mim – 1939 -, ao mesmo tempo,mais ou menos,o seu Aldo comprou um flamante Chevrolet,zero quilômetro.
 Possuo fotos tiradas por meu pai, da minha irmã rechonchudinha,sentada no capô do carro paterno, novinho em folha,e eu ao lado do automóvel.
A Segunda Grande Guerra começou quando Mirian mal tinha nascido.
O Chevrolet,como todos os veículos automotores,não poderia circular pela cidade tendo gasolina como combustível. A guerra cortou esse “barato”:quem quisesse rodar tinha de se valer do gasogênio.
Tal combustível necessitava de uma ventoinha para que começasse a funcionar.
No frio,era um horror: a geringonça não tinha pressa. E,ainda por cima,não era bem-vinda pelos veículos motorizados.
O meu pai se negou a usar gasogênio em um carro recém importado dos Estados Unidos.
O coitado foi posto sobre cavaletes mirins e,com alguma frequência,punha-se para virar o motor à gasolina. Em 1945 a Segunda Grande Guerra terminou.

Não sei quem inventou que os automóveis pudessem ser vendidos pelos americanos por bons preços. Não era verdade.
O seu Aldo,que havia vendido o Chevrolet e pensava comprar um carro dos Estados Unidos,não sei por qual razão,voltou-se para o mercado automobilístico francês.
Vai daí, que comprou um Citroën do ano, ou seja,1947. Eu estava no Colégio São Tiago,internado e,em consequência,revoltado.
Somente na Páscoa era permitido que eu visitasse meus pais e meu irmão e a irmã. A decisão de me manter,mesmo na Páscoa,em Farroupilha,sede do internato,foi tão mal recebida por mim,que os meus pais decidiram rever a situação.

Dali para a frente,sempre que eu tivesse de retornar ao colégio depois de algum volta à casa
paterna,era levado de Citroën.
O meu pai – não pensem mal dele porque os tempos eram outros – me dava a direção do carro.
Para tanto,tinha de ficar no meio dos bancos e assumir a direção do carro.
Depois disso,comigo já de volta a Porto Alegre,sempre que se viajava para cidades próximas,eu dominava um pouco mais o “francesinho”. Isso durou algum tempo,mas,bem antes dos 18 anos,mesmo que sempre acompanhado pelo pai,eu dirigia o Citroën.
Fico por aqui porque restaram mais episódios nos quais os carros paternos – uma série de Fuscas – tiveram de me aturar.

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