Nada será fácil a partir do momento em que você se depara com
a deficiência intelectual acompanhada da física.
Começo assim esse texto, o que pode parecer de certa forma
pesado, porque na verdade é pesado. Refletir sobre esse sentido com doçura ou
sentimento de ter sido abençoado é muito mais poético do que real.
Já relatei várias vezes por outras ocasiões, o problema que minha
filha Vitória teve ao nascer.
De uma infecção combatida desde as primeiras horas de vida
ainda sem saber exatamente o que ocorria, ficaram algumas sequelas para serem
enfrentadas.
Déficit cognitivo e uma hemiplegia no lado esquerdo se
incorporaram no dia a dia da Vitória.
De lá pra cá foi muito investimento.
Estimulação precoce, fonoaudióloga, fisioterapeuta, psicólogos,
pilates, natação, psicopedagogas, enfim uma tarefa que não termina quando se
corre contra o tempo em um cérebro que fica sempre em transformação até que os
neurônios se acomodem em algum lugar e uma bateria de remédios o ajude a
mantê-lo calmo e organizado.
Tarefa complicada.
Uma matemática que lida não só com a interpretação da própria
Vitória, porém com a nossa enquanto Pais.
A gente sabe que ela sofre, porque tem consciência de sua deficiência,
mas não pode ir além daquilo que a vida lhe preparou.
E tudo vai correndo conforme o tempo manda e a gente vai até
esquecendo que lidar com a deficiência é algo complicado. Só que nesse processo
de crescer e ir enfrentando cada barreira de uma vez, ainda temos uma filha com
aquele ar de criança que não cresce na velocidade do irmão que aos 13 anos
parece ser um homem de 18.
Muito provavelmente pela relação que tem com o problema que
visualiza todos os dias.
Só que ai chegamos aos 21 anos.
E o que para a maioria dos seres humanos vem como um grito de
liberdade de maior idade, para o deficiente cognitivo, representa estar jogado
ao mundo sem a velha escola que lhe deu abrigo e vida social.
E agora para onde se vai.
A autonomia é sem dúvida o que permite ao ser humano dar o
seu grito de independência e trilhar os próprios caminhos. Nessa caminhada,
existe uma importante
etapa chamada trabalho.
Trabalhar, construir um vínculo com pessoas envolvidas em um
processo produtivo que nos ajuda a dar sentido aos nossos dias. Melhorar a auto-estima,
se sentir gente como todo mundo gosta de se sentir.
E é ai que o término do período escolar nos coloca novamente
o ponto de interrogação.
É certo que alguns estabelecimentos de ensino, começam aos
poucos no final dos ciclos a preparar os alunos para determinadas funções que
os tornem mais responsáveis e os preparem para o mercado de trabalho.
Porém em
um ensino tão desprovido do atendimento necessário, a tarefa de estar em sala
de aula já não é fácil, quanto mais à escola ter toda a estrutura para preparar
os alunos para um tipo de mão de obra a ser aproveitada posteriormente de forma
produtiva.
E agora que chegamos aos 21?
Já não se tem mais a escola para pelo menos em um período do
dia ocupar uma cabeça que tanto precisa de atendimento direcionado para compensar
o que o tempo não perdoa.
Temos as atividades diárias e as nossas vidas para tocar, não
conseguindo dedicar um tempo exclusivo. Ficar 24 horas tomando conta de quem
não tem condições de se governar.
Não é fácil. E na verdade nunca foi e nunca será.
É uma
tarefa que surge nos primeiros momentos quando se descobre que aquela vida irá
merecer atenção especial até os últimos dias de nossa existência.
E ainda mais isso.
E no fim das nossas vidas quem dará
suporte?
Bom, mas esse é outro problema para se enfrentar, voltemos ao
assunto “E agora 21”.
Dentro deste panorama surgem os cursos preparatórios.
Não que
deles saiam mestres na profissão, mas que essa especialização os ajude a se
sentirem seres incluídos em um sistema produtivo.
Que sua dedicação e mão de
obra sejam consumidas de alguma forma como acontece com qualquer pessoa na
sociedade.
Não são muitos os espaços que oferecem esses cursos até
porque não é uma tarefa de tão somente ensinar, mas sim de adaptar determinada
função a cada deficiente tanto físico como intelectual.
Complicado sem dúvida.
Problemas de estrutura, mão de obra
especializada, dedicação e ainda mais, a afinidade do profissional com o
aprendiz deficiente.
Pensando nessa complicada tarefa, é preciso ser mais do que
pai e mãe.
É preciso mais uma vez tentar superar não só as da Vitória, mas as
nossas deficiências.
O resultado pra cada um é diferente porque independente da
Deficiência, temos as experiências pessoas, o apoio da família, as condições
financeiras e sem dúvida a sorte ou o azar de estarmos bem assistidos por
profissionais que não nos vejam somente como pais de um deficiente, mas uma
família que precisa como um todo de ajuda!
Que venha os 21 e tudo mais que tenhamos de enfrentar.
Olá Cristhian!! Os planos de Deus são secretos, por isto não sabemos o por que de tantas coisas, mais uma coisa eu te digo, ele nos faz forte para suportar tudo o que precisa ser superado...Força e saúde para vcs.. Um abraço.Fabi
ResponderExcluirObrigado Fabi, bom te ter por aqui.
ExcluirAbraço
Os melhores comandantes são os que corrigem seus próprios passos, o tempo todo em vigília, pois é assim que guiam seus passageiros a um bom tempo, seguros e salvos! Parabéns à ti e tua família, que rica sorte vocês tem com a Vitória, e que rica sorte ela também tem. Fraterno abraço!!
ResponderExcluirObrigado pelas palavras Carlos, um forte abraço para você também.
ExcluirTambém considero uma sorte muito grande da Vivi ter vindo pra ti e pra Lúcia. E desde o primeiro momento, nunca faltou dedicação, carinho e amor. Digo e repito: Tenho muito orgulho de vocês! Grande beijo 💙
ResponderExcluirMuito obrigado Prima, beijo!
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