Por Milton Ferretti Jung
No dia em que a Presidente Dilma Rousseff anunciou, no Palácio do Planalto, o Programa de Concessões de Rodovias e Ferrovias senti-me mais perto de ver um antigo sonho se tornar realidade. Não pensem os meus raros leitores que o meu sonho englobe os dois meios de transporte privilegiados com os 133 bilhões de investimentos que Dona Dilma destinará para o plano que,segundo uma das frases do seu discurso, servirá para “desatar nós” da economia brasileira. Sou fã de carteirinha de uma das beneficiadas: as ferrovias.
Tenho saudade da Copa do Mundo de 1974, na Alemanha, especialmente, porque numa das tantas viagens que os meus colegas e eu fizemos durante a competição, usamos trem. Que maravilha! Estava afastado desse meio de transporte – limpo, silencioso e extremamente confortável – desde que, como tive oportunidade de contar neste blog em uma dessas quintas-feiras, viajei do Rio a Belo Horizonte numa cabina do Vera Cruz, trem noturno que ligava o Rio a Belo-Horizonte. Narrei para a Rádio Guaíba, em Belo-Horizonte, Atlético Mineiro x Grêmio. Foi uma noite para lá de bem dormida. Trens com cabina são ótimos para a gente dormir, ao contrário do que acontece na classe turística dos aviões.
Minha relação com os trens começou cedo. Nasci em Caxias do Sul, na residência dos meus avós por parte de mãe, no tempo em que os partos podiam ser feitos em casa, desde que não se tratasse do cesáreos. Com uma semana de vida, os meus pais levaram-me para casa na qual moravam, em Porto Alegre. Foi a minha primeira viagem de trem. Durante minha infância viajamos, inúmeras vezes, em geral na época das férias colegiais, da capital gaúcha para Caxias e vice-versa. Lá pelas tantas da minha infância, meus pais resolveram me internar em um colégio situado em Farroupilha, o São Tiago.
Viajamos de trem, o mesmo que fazia o percurso entre Porto Alegre e Caxias. Foi a pior viagem da minha vida. Aquele que viria a ser o meu concunhado, o Bruno, já estava internado no mesmo colégio desde o início do ano. Eu cheguei em agosto. Éramos vizinho e companheiros nas artes, razão pela qual nossos pais adotaram a drástica solução. Desembarcamos em Farroupilha – os meus pais, o Bruno e eu – numa tarde de domingo, véspera do reinício das aulas. Nem bem coloquei os meus pertences no armário ao lado da que seria a minha cama por longos e tenebrosos seis meses, disse ao irmão que me recebera estar com dor de cabeça. Não era verdade. Queria apenas uma desculpa para ficar sozinho e ter uma chance de iniciar minha primeira fuga do internato. Fugi correndo em busca da ferrovia. Pensava que poderia, pelos trilhos do trem, ir a pé até minha cidade natal. Quando alcancei a ferrovia, o irmão Brício e o Bruno me viram e este acabou me alcançando em meio a um milharal. Essa fuga não foi a única. Na segunda, Bruno escapou comigo. Como na primeira, minha meta era chegar aos trilhos e ir até Caxias do Sul. Nove quilômetros antes dessa cidade, porém, a noite caiu e, no escuro assustador, decidimos voltar para o colégio, rezando o terço. Bem que em meio a este texto, eu disse que minha relação com trens e os seus trilhos começou cedo e, talvez por isso ,vou torcer para que o projetado transporte ferroviário, para valer, dê certo.
Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Às quintas-feiras, escreve no Blog do Mílton Jung (meu irmão)
sexta-feira, 31 de agosto de 2012
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