sexta-feira, 1 de outubro de 2010

A Cidade

Analisando a imagem que brotou depois de um click na máquina que já não faz mais click porque vivemos numa era digital, me dei conta que do parabrisa dianteiro do carro brota a cidade que todos os dias ali esta. Engraçado como temos de captar em fragmentos de imagem cenas que temos aos olhos todos os dias.

Por isso que as fotografias nunca vão parar de falar. Pelo contrário, cada dia falarão mais e mais.

Olhei a foto feita assim meio sem esforço e me vieram várias sensações. Engraçado quando se é adulto como se abre espaço para a depressão, ou melhor, como parece que a depressão pega carona com a gente todos os dias.

Basta uma cena uma olhar um sorriso e as sensações se transformam dentro da gente.

Mas não é para falar de fluoxetina que escrevo estas linhas.

Vi a foto e muito mais que isso.

Vi a cidade que tenho todos os dias e que cada um de nos onde vive tem também.

Talvez os que vivem a vida inteira no mesmo lugar ainda se sintam mais proprietários de determinados cenários.

E a cidade esta ali.

Pra mim há 43 anos.

Estes dias caminhava pelo meu bairro pra levar meu filho mais novo ao colégio e era engraçada a sensação de estar vendo as mesmas cenas da minha infância e da adolescência.

O lugar onde ficava a sorveteria que se juntavam os trocados pra comprar uma casquinha e que agora virou uma lanchonete, a banca de revista que já não é do mesmo dono, mas lembro o nome ainda “Tonel”.

O supermercado que já mudou de nome e um dia pegou fogo, a Igreja que já conheci modernizada e que nas missas de domingo a malandragem era ficar ao fundo controlando as gurias.

O cinema Marrocos que agora virou um estacionamento ridículo e que as pessoas que lá ficam não tem a mínima noção do que aquele prédio representou um dia.

Enfim a cidade que me apropriei com os anos de vida.

E como é bom quando voltando de uma viajem, chegamos a nossa cidade. Surge àquela vontade de dirigir bem devagar, aumentar o som, tirar o cinto de segurança (ainda que seja erradícimo).

Conhecemos o tempo das sinaleiras, as ruas que alagam, os lugares mais bonitos, os mais feios, os habitáveis e aqueles que jamais entraremos a noite.

O sol brinda com entardecer dourado.

A cidade esta sempre ali.

Quantas pessoas já passaram por esta cidade.

Enfim a vida brota do vidro do carro e muitas vezes dali de dentro não conseguimos enxergar além do carro da frente que ainda não arrancou.

A sinaleira que não abriu. A pressa.

O fim do dia e todo o recomeço no dia posterior.

Mas a cidade esta ali.

E nesta foto de pouca arte fotográfica, vejo que a cidade nos espera todos os dias, ainda que na maioria deles não consigamos enxergar além do nosso umbigo.

Por isso meus amigos ao sentar no banco do carro tentem olhar um pouco mais do que esta na frente, a Cidade sabe esperar.

Só não esqueçam. O carro de trás não!

Este texto foi publicado no blog do meu amigo Henrique o "Fusca do Rock" no mês passado.
fuscadorock.blogspot.com


3 comentários:

  1. Sensacional. Serviu como uma luva. Hoje também estou filosofando... quero publicar isso no Fuscologia, permite? Abs e um ótimo fim de semana. Tota

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  2. Claro meu amigo pode publicar lá sim só que tem pedágio vais ter de me emprestar o teu texto "O Amor é como Fusca"
    Ficou muito bacana.
    Acho que vamos ter de estudar aquele livro!!!!

    Abração

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  3. hehehe Grande Christian, bela reflexão!!
    Mais uma vez obrigado por colaborar para que o blog Fusca do Rock tenha também um espaço para o debate filosófico.

    abração

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